20 de fev. de 2011

PROJETO EDUCAÇÃO!.!.!.!.!

Sempre ouço uns especialistas em EDUCAÇÃO dizendo que aumentar salário de professor não melhora a EDUCAÇÃO. Me pergunto como podem dizer isso? Baseados em que? Como testaram (ou se) houve algum tipo de teste? Como seria este teste: aumenta o salário de um grupo de professores, de outro grupo não aumenta (deixando-os indignados, claro) e compara as notas dos alunos ao longo de uns 3 anos.
Tenho procurado estes trabalhos. Nunca li nenhum. Assim que os achar escrevo novamente por aqui.
Até entendo quando dizem que somente aumentar salário não vai transformar nossos alunos e professores em melhores alunos e professores. Concordo com isso. O problema é muito mais complexo. Envolve um número de variáveis tão grande que simplificar assim é perigoso.
Mas precisamos nos colocar no lugar dos professores. Ver sua conduta. Ver sua luta. Sua vida.
Estive em sala de aula por apenas três anos (professor estadual/RJ), e ainda sou tutor no CEDERJ/VR. O que escrevo aqui é baseado em informações obtidas nesse tempo, somado a toda minha vida acadêmica.
Destes três anos que pude estar na sala dos professores (mais importante que a sala de aula para esta análise), tanto no período matutino quanto noturno, o que mais me chamou atenção foi o quanto meus colegas trabalham. A grande maioria trabalha em 3 ou 4 escolas diferentes. Eu era o único (por felizes razões pessoais) do corpo docente que somente trabalhava em duas escolas. Alguns diziam já ter trabalhado quase 80 horas/aula/semana em um certo período. Pergunto-me o motivo, e que tipo de aula estes professores conseguem dar?
A primeira resposta parece fácil. É preciso dinheiro, ou se quer ganhar mais dinheiro, pagar contas, ter uma casa, um carro, algum lazer (quando estiver de férias), ou seja, aquilo que quase todo ser humano quer. Pelos meus conhecimentos de quanto um professor como ele (o de 80 horas/aula/semana), nas escolas que sei que ele dava aula, ganha, este super-salário (lembre-se que a semana tem potenciais 90 horas/aula) deveria chegar a 10 mil reais. Contando que 27% o Leão tomava para dele, sobravam aproximadamente 7 mil reais/mês. Isto foi em 2008/2009.
Estou escrevendo em 2011. Já não dou mais aula, a não ser no CEDERJ (onde efetivamente não dou aula, mas tutoria – outra história). Passei num concurso público, estou esperando ser chamado para trabalhar na FIOCRUZ/RJ. Nesta história de fazer concurso público, comecei a conversar mais sobre o assunto com outras pessoas, a ler alguns editais...etc
Um destes me chamou atenção. Era para engenheiro do BNDES. O salário era de aproximadamente oito mil reais, 35 horas semanais, além de auxilio creche/ensino fundamental/ensino médio (significa ganhar algum extra se o filho estiver em idade escolar, não importa o nível), vale alimentação de aproximadamente 800 reais (pra se ter noção, é mais que o salário de um professor no ensino fundamental/médio para 12 horas/aula/semana no Estado do Rio de Janeiro – atuais 750 reais.), auxilio médico/hospitalar/odontológico, vale transporte...) e por aí vai.
Apenas por este relato, vemos que um professor, que deve ter sob sua responsabilidade, em todas as escolas que leciona, algo em torno de 500 crianças/adolescentes, que tem uns 6 chefes (os diretores das escolas <sem contar as orientadoras pedagógicas, nada contra>), precisa trabalhar pelo menos 3 vezes mais que um engenheiro (estou contando aqui o enorme número de provas, trabalhos, diários e qualquer tipo de serviço que deverá ser feito em outro horário que não o que ele está na escola) para ganhar um valor inferior. O QUE O ENGENHEIRO FAZ DE TÃO IMPORTANTE OU MELHOR QUE ESTE PROFESSOR???
Se analisarmos com muita calma, chegamos à conclusão infeliz que a sociedade atual, onde incluo a minha própria classe - os professores, os pais, os alunos, os políticos... a lista é longa -  não dá o menor (ou devido) valor para o professor. Nossos filhos passam mais tempo com os professores do que nós mesmos. São muito influenciados por eles, podem aspirar alguma coisa da vida pelo exemplo que da sala de aula, e ainda sim só ouvimos e falamos que é um absurdo pagar isto para os professores, e não fazemos nada.

A segunda resposta, sobre o tipo de aula que este professor dá, também parece fácil. É uma aula mecânica, sem motivação, sem reflexão, sem paixão. Como diriam os filósofos: “o sprofessor sujeito humano...”. Não há energia, voz, vontade, que sobreviva a 80 horas de aula numa semana. É inegável que durante este período os alunos que estiveram sob a tutela deste professor foram de alguma forma prejudicados. Nesta situação, qual auto-avaliação ele poderia fazer em relação a seu trabalho? Qual tipo de avaliação ele poderia fazer com os alunos? Como ele melhoraria? Quem diria isso a ele?
Mas podemos puni-lo? Podemos dizer que ele estava sendo ganancioso, querendo dinheiro demais? Quem somos nós, os de fora, para sabermos das necessidades financeiras deste cidadão? Caso contrário seria muito fácil, não é?

Este é apenas um caso, mal contado, apenas de lembrança, mas que muito chamou minha atenção, tanto à época quanto agora. E será que acontece com outros professores? Minha resposta, empírica, é sim.
Posso perceber que de forma geral os professores ganham pouco, e por isso trabalham muito, em muitas escolas, e por fim as aulas que lecionam não devem ser as melhores, em termos potenciais (dedução minha). Será que tem solução?
Quando ainda lecionava, foi à escola uma funcionária explicar um plano do governo federal para melhorar a educação. Explicou quais eram as atribuições da escola, dos professores, o que deveriam fazer, como solicitar verbas, como prestar contas, como montar projetos... mas em nenhum momento havia uma contrapartida para o professor, seja em termos salariais, seja em tempo para capacitação, sejam cursos de aperfeiçoamento com diminuição de carga horária na escola...
Sejamos francos, como vamos melhorar alguma coisa assim? Gostamos de dar aula, mas as contas continuam chegando...

A minha idéia para melhorar a educação

Como professor, defendo a valorização do nosso trabalho. Mas acredito que somente aumentar o salário não vai resolver da maneira necessária. Acredito que, uma vez que os problemas educacionais são complexos, a solução não pode ser simples. O que proponho aqui é voltado para a educação pública.

Alem de melhorar o salário dos professores, é necessário que o professor não tenha tantos chefes, que não trabalhe em tantas escolas. Isso já permitiria um melhor desempenho porque o número de alunos atendidos seria menor. Como fazer isso? Atrelar o aumento de salário do professor ao fato de não poder trabalhar em mais de uma ou duas escolas. Assim, o mínimo que um professor passaria em uma escola seria de 24 a 30 horas semanais. Com isso, projetos extraclasse, atendimento personalizado, atividades direcionadas para alunos com problemas específicos, tudo isso seria viável de acontecer. Do jeito que é hoje, não vejo como poderia funcionar uma recuperação paralela, por exemplo.

Uma outra contrapartida do professor para ter o aumento de salário seria a obrigatoriedade de participação de um curso de aperfeiçoamento ou capacitação anual. Estas poderiam acontecer no recesso (julho) ou no fim de janeiro/início de fevereiro. Este seria um meio de melhorar o corpo docente para melhores aulas.

Uma terceira contrapartida (para loucura dos sindicatos) seria um processo de avaliação do professor, seja em termos de conhecimento, seja em termos pedagógicos. Essa avaliação poderia ser anual (talvez em conjunto com o curso de capacitação).


Espero que me entendam, e postem comentários, por favor...

Nenhum comentário:

Postar um comentário